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Arquivo mensal: novembro 2017

O valor do engajamento

Já faz parte da linguagem do brasileiro o termo “Ibope“, usado como gíria e presente até em dicionários, usado como sinônimo de monitoramento, acompanhamento audiência. Atualmente, o Ibope Inteligência é uma das maiores empresas de pesquisa de mercado na America Latina.

Para medição de consumo de mídia, o Ibope instala um aparelho chamado peoplemeter em casas que sejam uma amostra representativa do todo das principais cidades de cada estado. O monitoramento gera resultados de “pontos de audiência”, que norteiam como a programação da TV é consumida, por que classe social e quando do dia a familia liga a televisão.

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Esses resultados do Ibope também norteiam a venda de espaços publicitários, sendo moeda de troca por parte das tvs, que oferecem seu público à marca em troca de grandes montantes de dinheiro.

Mas basta o índice Ibope hoje para gerar dados sobre consumo de TV? A cada dia surgem tantas formas alternativas de consumo de mídia que é difícil até imaginar uma medição única sobre hábitos de consumo em geral, em todos os dispositivos que temos a um toque da mão, atualmente.

 

Estendendo para o mercado de séries, como inserir o submundo dos dowloads piratas e contabilizar isso para definir o sucesso (inclusive financeiro) ou o declínio de uma produção seriada? Atrelado ao consumo, há o engajamento. Palavra chave aqui nesta reflexão. O valor do engajamento para a mídia em geral é (ou deveria ser) tão importante quanto os números de televisores ligados em um mesmo instante assistindo àquela programação.

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Vejo hoje o engajamento como a maior moeda de troca que o mercado de mídia pode ter; mas essa moeda ainda é cercada de medições incertas e valores que são divulgados pelas próprias plataformas, sem uma medição ou aferição externa ou independente. O engajamento é capaz de trazer novamente aos olhos do público séries que estavam mortas ou esquecidas, como é o caso de Arrested Development – cancelada pela Fox e 10 anos depois ganhou as telas com a Netflix.

O ponto principal aqui é que não bastam números de uma audiência específica ou dados de download e consumo, a medição de engajamento é tudo isso combinado, mais a compra de produtos da marca, mais a presença dos fãs discutindo sobre isso na internet, mais o conteúdo produzido por esses fãs, mais as páginas dedicadas ao assunto e mais um monte de pequenas coisas que juntas formam um mar de engajamento que garante público e retorno financeiro, um sonho para todos os produtores de mídia e conteúdo audiovisual.

 

Isabela Norton

 

(Texto produzido com relação ao livro Cultura da Conexão, de Henry Jenkins)

Literacia Midiática na prática

Participar do II Congresso Internacional de Competências Midiáticas foi uma experiência interessante; partilhar de percepções e atuações de professores em diversos países e em vários estados do Brasil, todos lidando com o desenvolvimento ou estudo das competências para lidar criticamente com a mídia.

Uma das palestras que me chamou atenção foi a da Professora Dra. Márcia Barbosa e Professora Dra. Maria Alzira de Almeida, ambas pesquisadoras da Rede Alfamed. Vejam algumas das reflexões propostas.

Pesquisas acadêmicas são norteadas por perguntas como “onde estamos?” e “pra onde vamos/queremos ir?”, portanto é fundamental estarmos atentos à nossa realidade e às mudanças que ocorrem a todo momento. Essa dinâmica social é a fonte de estudos, percepções e questionamentos que podem nos levar, enquanto pesquisadores, a produzir pesquisas relevantes.

Em um trabalho desenvolvido pelas professoras com alunos e alunas investigando a forma deles de lidarem com tecnologias, percebeu-se, através de pesquisa numérica, que 48% são autodidatas sobre tecnologias e seus conteúdos, e que 52% consideram ter um nível médio de conhecimento sobre o assunto, mesmo não tendo feito nenhum curso específico ou treinamento na área.

A maioria deles declarou que preferem lidar com conteúdos e plataformas intuitivas. A compreensão de mensagens, de maneira geral é boa, percebendo a relação entre diferentes mensagens que circulam na rede. Há, porém, um auto índice de desconhecimento sobre como fazer denúncias seja de conteúdo indevido, seja de fakes ou de qualquer problema nas redes.

Ao lidar com câmeras e edição de conteúdo audiovisual, os alunos mostraram que compreendem bem a linguagem visual e sabem como ordená-la, algo semelhante a um princípio de roteirização. A capacidade de editar (recorte, reorganização, ordenação) e criar produtos ainda é pouca, porém as habilidades de compartilhamento são presentes.

Crianças em torno dos 6-9 anos já tem a intuição de como movimentos de câmera funcionam, e que efeitos causam em quem está consumindo aquele conteúdo. Ao manusearem câmeras, foram feitos exericios com elas de pensar, conhecer, fazer igual, fazer diferente (incentivando experimentações), e pensar na audiência (pra quem estou produzindo?).

 

As percepções das professoras com esses experimentos nos mostram que o contato com a rede, com tecnologia audiovisual e com compartilhamento de conteúdo se dá desde muito cedo, e faz parte da rotina e prática diária, quando os pais gravam um vídeo, ou quando querem se gravar em algo e precisam experimentar ângulos e roteiros criados por eles mesmos.

A literacia midiática deve ser incentivada para que cada vez mais essas crianças e adolescentes percebam e tenham pensamento crítico sobre o que estão produzindo e pra quem estão produzindo, e, principalmente, que consequências essa produção pode causar.

Isabela Norton

 

 

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O DESAFIO É A EDUCAÇÃO

O II Congresso Internacional sobre Competências Midiáticas, realizado na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), discutiu, entre os dias 23 e 25 de outubro, as diretrizes necessárias para a disseminação dos debates sobre literacia midiática. Organizado pela Rede Alfamed Brasil, o evento contou com representantes de diversos estados brasileiros e de países da Europa e América Latina. O Congresso expos os desafios da educação continuada e a inserção dos estudos da mídia em diversas faixas etárias, essa colocação primária foi apresentada pelo  Presidente da Alfamed, Profº José Ignácio, da Universidade de Huelva, na Espanha. Ele ainda explicou  que a literacia midiática está constituída em quatro grupos de estudantes: os primários, fundamental, universitários e professores.

Na mesa redonda da Rede Alfamed Brasil, as Doutoras Soraya Ferreira, da UFJF, Márcia Barbosa, da UEPG, e Maria Alzira Almeida, da UFTM, apresentaram suas pesquisas relacionadas aos quatros grupos de alunos e analisaram o entendimento de que possuíam.download

Os primeiros dados foram apresentados pela professora Soraya Ferreira que desenvolveu um estudo com jovens universitários. Foram aplicados questionários a estudantes de universidades públicas e privadas, das diversas áreas de conhecimento. A pesquisa concluiu que a maioria dos entrevistados consumiam e tinham acesso às informações digitais,no entanto grande parte não sabe produzir conteúdo para os meios que consomem. Eles compreendem e sabem da existência de ferramentas para a produção, mas os usuários preferem compartilhar conteúdo ao invés de produzir. Fato é que o  ecossistema digital está alterando o modo que consumimos, aprendemos e ensinamos. E a pergunta: Para onde vamos? Paira sobre as pesquisas da literacia midiática.

Já a professora Márcia Barbosa desenvolveu um projeto com crianças da educação fundamental. O foco da pesquisa foi no conteúdo audiovisual e compreendeu o conceito que as crianças detinham sobre: conteúdo, linguagem, apropriação, criação, audiência, circulação e cidadania. O estudo critica a formação dos professores que utilizam das produções fílmicas sem um pensamento crítico sobre o conteúdo mostrado aos alunos. Márcia, explicou que as crianças que participaram da pesquisa já possuem algumas noções básicas sobre enquadramento, narrativa e conteúdo. Mas reforça a necessidade desse trabalho ser ampliado. 

A última apresentação foi da Drª Maria Alzira ela propôs uma reflexão sobre educação e mídia. Ela compreende que as escolas ainda estão frágeis para o ambiente digital e chama atenção para a exclusão digital. A professora ainda apresentou que a televisão ainda é um dos meio de comunicação que ainda mais influenciam no comportamento.

 

Games de mundo aberto e estratégias transmídia

Henry Jenkins, no terceiro capítulo de seu livro “Cultura da Conexão” diz que as estratégias transmídia são hoje uma atitude tomada pelas empresas midiáticas para aumentar o engajamento dos públicos. Um filme, uma novela, uma série ou um livro, por exemplo, deve ser capaz de gerar conteúdos para outras mídias e suportes para se manter firme no ambiente midiático e comunicacional, permanecendo na memória de fãs e espectadores por muito tempo.

Em algumas páginas, o autor oferece exemplos de franquias que obtiveram grande sucesso transmidiático por apresentarem ao menos uma das seguintes características: serialidade e um universo ficcional complexo. De acordo com Jenkins, “a complexidade dos universos das histórias em quadrinhos, das cidades das novelas e do mundo da luta livre profissional (…) vem através de uma forma intensa de acrescimento, através de mundos de histórias baseadas em um universo muito maior de personagens do que uma história “aprofundável” típica” (JENKINS, 2014, p. 176).

Nesse sentido, percebemos que as franquias de mais sucesso com relação a estratégias transmídia são as que apresentam um universo ficcional complexo, grande e fluido. Star Wars, Lord of The Rings, Harry Potter, Matrix, Lost etc são franquias que tem um potencial enorme para a elaboração de conteúdos sob diversos formatos pelo fato de apresentarem um universo grande, tanto temporal quanto espacialmente. Além disso, elas também apresentam sociedades complexas, com várias questões primordiais em aberto e em expansão, gerando debates e teorias sobre a origem de personagens ou sobre o futuro dos acontecimentos, por exemplo. Essa complexidade potencializa e muito a possibilidade de se criar conteúdos infindáveis para diversas plataformas, pois sempre há algo a se falar ou algum aspecto a ser explorado.

Narrativas lúdicas emergentes e em expansão

No entanto, uma mídia não mencionada por Jenkins em relação a estratégias transmídia possui um potencial intrínseco para o lançamento de franquias de sucesso na cultura da conexão. Estamos falando dos videogames de mundo aberto.

Esse formato tem um potencial muito grande para ser utilizado como ponto de partida para o início de uma franquia com boas possibilidades de se gerar produtos transmídia. Isso acontece pelo fato de RPGs serem concebidos a partir da criação de um mundo ficcional complexo o bastante para comportar infinitas possibilidades de narrativas a partir das ações dos jogadores. Os game e level designers de jogos de mundo aberto têm a função de arquitetar enormes ambientes interativos onde as narrativas vão emergindo em confluência com as atitudes tomadas pelo jogador. Há um plot, um enredo e uma macronarrativa prévias, mas o jogo só se atualiza a partir da força motriz exercida por quem joga. É sempre um universo em expansão, com “múltiplas camadas de significado” (JENKINS, 2014), podendo gerar conteúdos relevantes para diversos formatos.

Assim, games de mundo aberto como GTA, Assassin’s Creed, The Elder Scrolls, DayZ, World of Warcraft etc contam com uma espacialidade que proporciona também a adaptação de conteúdos para outras mídias, gerando engajamento de sua base de fãs. Por exemplo, em The Elder Scrolls V: Skyrim, cada reino tem uma história complexa de sua formação e muitos moradores dessas cidades tem um passado significativo para o entendimento das configurações sociais e culturais do presente ficcional do jogo. E essas memórias são passíveis de serem exploradas para gerar conteúdos relevantes para o engajamento do público.

Referências

JENKINS, Henry. Cultura da conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável. Tradução: Patrícia Arnaud. São Paulo: Aleph, 2014

A importância da Competência Midiática no desenvolvimento de um país

Consumimos mídia o tempo todo. Em um cenário de convergência, dispositivos móveis e conectividade, as mídias se potencializam e se encontram em todos os lugares.

A palestra de abertura do II Congresso Internacional sobre Competências Midiáticas foi ministrada pelo professor doutor da Universidade de Huelva, José Ignacio Aguaded Gomez. Com o tema “Comunicação e Educação: paradigmas para a integração”, Aguaded iniciou as discussões envolvendo a temática da competência midiática e da relação entre Educação e Comunicação que se estendeu durante três dias, na Faculdade de Comunidade da Universidade Federal de Juiz de Fora.

 

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FOTO: OBSERVATÓRIO DA QUALIDADE NO AUDIOVISUAL

 

O evento contou com a participação de pesquisadores do Brasil e do exterior com o objetivo de promover a troca de conhecimento e informações sobre as Competência Midiáticas e discutir o panorama midiático atual.

Segundo o professor doutor da Universidade de Huelva, as competências se referem à capacidade de compreender e usar as mídias de forma inteligente, ativa e participativa.

A grande maioria da população tem contato com algum tipo de mídia, seja a televisão, rádio ou internet. Porém, são poucas aquelas que conseguem ter uma visão crítica acerca da informação e conteúdo que são passados pelos meios de comunicação. Os meios estão tão intrínsecos no nosso dia-a-dia que acabamos não refletimos sobre o impacto e influência das mídias nas nossas vidas. Se levarmos em conta que criamos nossa opinião através dos meios e nossa cultura está cada vez mais integrada as mídias, percebemos a importância que os estudos críticos de mídia têm no cenário atual.

 

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FOTO: OBSERVATÓRIO DA QUALIDADE NO AUDIOVISUAL

 

“As mídias hoje são o universo central da sociedade. Não há possibilidade de entender a sociedade contemporânea sem elas, por isso é tão importante que os cidadãos estejam preparados, formados, alfabetizados e tenham letramento para compreendê-la de uma forma inteligente, para apropriar-se dos aspectos positivos, mas também para recusar os negativos, que são muitos”

Para Aguaded, “a formação voltada para as competências midiáticas é tão essencial que, só por meio dela, pode-se, na atualidade, pensar em democracia na plenitude do termo”. A democracia não significa apenas votar, mas que o cidadão consiga exercer de forma plena seus direitos a partir de um pensamento crítico, ações livres e proativas. “E isso se consegue entendendo os meios. Não é possível pensar em um povo inteligente sem que ele seja alfabetizado para a realidade, sobretudo a realidade virtual”.

Nesse sentido, o professor acredita que a competência midiática é fundamental no desenvolvimento de um país uma vez que promove a formação da cidadania, da democracia e da participação livre. Dessa forma, quando falamos no desenvolvimento de um país, não devemos levar em conta apenas aspectos econômicos, mas principalmente aspectos culturais e a relação das pessoas com os meios. E enquanto não formarmos uma sociedade apta para consumir os meios de forma crítica, teremos um país pobre.

 “Os povos não crescem somente pelo PIB, crescem quando há muita cultura, muita crítica, muita população inteligente”

Aguaded defende que iniciativas que  incentivem, estimulem e principalmente desenvolvam as competências necessárias para compreender os meios devem ser constantes e a longo prazo, não esporádicas. E só através da educação midiática que podemos falar em uma cidadania crítica, democrática e participativa.

*Citações retiradas da entrevista do Professor Doutor da Universidade de Huelva, José Ignacio Aguaded Gomez, à Tribuna de Minas e ao Observatório da Qualidade no Audiovisual.

Fãs: a nova audiência participativa

No quarto capítulo do livro “Cultura da Conexão” (2014), Jenkins, Green e Ford, propõem uma reflexão com os termos de audiência versus público. Ambos são diferentes dos fãs, que segundo os autores, cultivam uma relação de posse com os programas midiáticos no qual são fãs e acreditam que seu apoio incondicional acaba dando-os o direito de ter voz ativa sobre tomadas de decisões, exigindo mudanças se necessário. Mais ainda, os fãs são críticos com relação à tais decisões tomadas. “Os apoiadores mais ardentes são também os críticos mais severos” (JENKINS; FORD; GREEN, 2014, 216).

Segundo os autores, há diferenças entre fãs e fandoms. Para eles, fãs são

indivíduos que têm uma relação fervorosa com uma franquia de mídia em particular, e fandoms, cujos membros se identificam conscientemente como parte de uma comunidade maior com a qual sentem algum grau de comprometimento e lealdade. Os fãs individuais podem ser tidos coo integrantes do grupo de espectadores, enquanto os fandoms começam a demonstrar algumas características dos públicos, ligados entre si por meio de sua ‘sociabilidade compartilhada’ e sua ‘identidade compartilhada’ (JENKINS; FORD; GREEN, 2014, p. 210).

Dessa forma, os fandoms são “ um tipo de coletividade (no qual eles agem como comunidades em vez de indivíduos) e conectividade (no qual seu poder é amplificado por seu acesso às comunicações ligadas em rede) cuja presença está sendo sentida na cultura contemporânea” (JENKINS; FORD; GREEN, 2014, p. 210). Essas comunidades de fãs servem de recurso para os espectadores construírem relacionamento e promover discussão e debate em torno de assuntos e conteúdos de interesse em comum. Eles mobilizam, reivindicam e exercem pressão sobre os criadores.

Os fãs sempre existiram e sempre tiveram como característica marcando seu envolvimento com o produto do qual são fãs. Não somente em produtos de mídia, mas marcas, artistas, livros, filmes, entre outros. O surgimento das plataformas digitais apenas ampliou o escopo de atividades desse público participativo e já socialmente ligado em rede (JENKINS; FORD; GREEN, 2014, p. 211). Eles ganharam maior visibilidade: participam ativamente na produção de conteúdo e possuem um importante papel dentro do fluxo de mídia de forma a exercer um grande impacto na circulação, distribuição e produção.

Com essa mudança de comportamento entre público, audiência, fãs e tantas outras nomenclaturas que tentam encaixar os novos indivíduos conectados e participativos, as empresas de mídia procuram se adaptar ao novo cenário e lidar com o engajamento e grande influência dos fãs. A maioria ainda está receosa na hora de abrir a participação dos fãs com receio de perder o controle sobre a produção e circulação de conteúdo. Pelo menos no Brasil, ainda estamos longe de alcançar algo que se assemelhe a uma participação plena. Pelo contrário, o que vemos na maioria dos programas é uma participação falsa, que induz o usuário/fã a interagir, mas que detém todo e qualquer controle sobre essa participação.

Vamos aprender com a Netflix?

A plataforma streaming Netflix vem se destacando quando o assunto é relação fã-produtor ao adotar referências do conteúdo popular da web e mesmo da televisão para criar seus anúncios de divulgação e lançamentos. Ela utiliza de assuntos que estão circulando na internet para pautar e relacionar com seus próprios vídeos de divulgação e com o universo dos fãs.

O vídeo publicado no Facebook da Netflix para divulgar que os episódios da 2ª temporada da série original Sense8 estavam disponíveis na plataforma, mostra claramente a estratégia que a Netflix usa para construir um relacionamento com seus fãs e consumidores.

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O vídeo referencia os memes da Gretchen que frequentemente estão circulando na internet e sendo remixado pelos fãs, assim como utiliza as próprias gírias dos fãs, como “Pisa Menos, eu te imploro”, “morta” e “spoiler”. Além dessas referências ao universo dos fãs, a Netflix usa outras séries originais para explicar o tempo de intervalo entre uma temporada e outra de Sense8, acrescentando referências de Stranger Things, Orange is the New Black, Black Mirror, 13 Reasons Why e Narcos. A utilização da intermedialidade faz com que o público estabeleça e conecte as referências, e, ao fazer isso, se sinta parte de um grupo que entende os diferentes textos de mídias usados. Essa compreensão da mensagem em sua totalidade aumenta o engajamento do público e fortalece o laço que os fãs têm com as produções das quais são fãs.  A Netflix está oferecendo algo que os fãs podem participar, falar o que pensam, se expressar e que seja significativo para os grupos com os quais conversam regularmente e possuem algum laço social.

Essa relação entre fã-produtor tornou-se mais clara quando a plataforma anunciou o fim da série Sense8 e os fãs foram capazes de viralizar a insatisfação pelo cancelamento, atingindo os atores, produção, direção e até mesmo a Netflix. Inúmeros sites explicaram o que esse cancelamento geraria de consequência para a plataforma e principalmente para o conteúdo web original, uma vez que foi entendido que não era apenas o fim de uma série, mas o desfecho de um laço social mundialmente criado. Toda a repercussão feita pelos fãs resultou em uma onda capaz de fazer com que a série ganhasse mais um episódio a fim de atender essa demanda gerada por eles.

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As empresas precisam entender o que motiva esses fãs e começar a responder a essas expectativas. A Netflix sabe o que os fãs gostam e o que está imerso e popular entre eles, coloca isso em evidência e, assim, cria conteúdo atrativo e com alto grau de engajamento e propagabilidade. É ouvindo e entendendo os interesses da nova audiência participativa e do universo que os envolve, como a Netflix tem feito, que as empresas vão conseguir traçar estratégias que de fato funcionem no novo contexto midiático conectivo.

Referências:

JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Cultura da Conexão – Criando Valor e Significado por Meio da Mídia Propagável. São Paulo: Aleph, 2014