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Arquivo mensal: janeiro 2018

Um exemplo latente (e atual) da inteligência coletiva: o podcast

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A coletividade, característica inerente aos humanos, inevitavelmente chegaram à internet

“Não há deuses no universo, nem nações, nem dinheiro, nem direitos humanos, nem leis, nem justiça fora da imaginação coletiva dos seres humanos” — é a afirmativa forte, ainda que não seja uma novidade, que recheia um dos últimos best sellers mundiais, o livro Sapiens — Uma breve história da humanidade. Nunca é tarde, no entanto, para compreender e reforçar como nós só somos indivíduos perante o coletivo — como conseguimos chegar até aqui nos baseando em uma inteligência coletiva.

As narrativas que nos embalam se confundem com nossa própria sobrevivência: desde os primeiros vilarejos humanos, passando pelas igrejas medievais e pelos grandes impérios da Antiguidade, até chegar à consolidação dos Estados modernos: todas as construções humanas, nas quais baseamos nossas vidas e espelhamos nossas culturas e tradições, são fruto de mitos partilhados, narrativas coletivas que sustentam nossas instituições.

Não é diferente no âmbito da comunicação. A inteligência coletiva, termo cunhado por Pierre Lévy, se refere a um contexto em que “ninguém sabe de tudo, todos sabem de alguma coisa, e tudo que uma pessoa conhece é acessível para outras mediante uma solicitação” (JENKINS, 2006). O que Lévy argumenta é que a capacidade de agrupar conhecimento, colaborar através de pesquisas e debater interpretações — tudo isso feito de uma forma coletiva — acaba resultando em novas estruturas de poder que, então, refinam e aprimoram o nosso conhecimento sobre o mundo e suas narrativas.

Realizar esses processos de uma forma coletiva não é somente a base das nossas próprias relações culturais, como também transformou o jeito como nós usamos tecnologias — a internet, por exemplo. O impacto, no entanto, não para por aí, como aponta Rheingold (2012): nós também modificamos como encontramos informações, como agregamos conhecimento, como conduzimos experimentos científicos e até como consumimos entretenimento.

Rheingold (2012) também enumera dicas para definir o que é ou não um exemplo de inteligência coletiva. Abaixo, exemplifico alguns dos critérios que precisam ser atendidos:

  • Um grupo diversificado de pessoas; segundo Rheingold, é comprovado cientificamente que a diversidade de uma rede social é o fator mais importante para a influenciar se alguém pode ou não utilizar o capital social desenvolvido nessa rede. Isso é importante, especialmente, para uma maior inclusão de pessoas pertencentes a grupos socialmente marginalizados.
  • Incentivar a prática da colaboração entre os próprios membros do grupo. Aprender a como distribuir a palavra em cada conversa é importante e vale à pena.
  • Torne fácil e acessível a contribuição para um repositório de conhecimento compartilhado.

Um exemplo atual, especialmente no Brasil, e que atende a todos os fatores acima são os podcasts. Por operar através de uma tecnologia acessível, tanto para consumi-los quanto para produzi-los, os podcasts são facilmente alcançáveis, disponíveis para qualquer pessoa com acesso à internet. Como fruto de meio on-line, no qual o acesso e a democratização de informações são movimentos fortes, outra característica que vem na bagagem dos podcasts é a sua abrangência de fãs e produtores. Não há restrição alguma — qualquer pessoa pode ouvir ou criar seu próprio podcast. A colaboração entre os próprios membros da comunidade podcaster é, também, parte da cultura da mídia. Um dos exemplos são as respostas à duas das perguntas da pesquisa realizada pela comunicadora Ana Terra (2017), sobre o cenário brasileiro do podcast.

Nota-se que o engajamento, dentro da própria comunidade podcaster ou consumidora desse tipo de mídia, em divulgar e apoiar os podcasts que acompanha. Outras iniciativas, como o Dia do Podcast — no qual é feita uma mobilização para divulgação em massa sobre podcasts em redes sociais –, também denotam claramente esse comportamento coletivo. Logo, embora seja importante assumir que o fenômeno da inteligência coletiva na internet ainda é um processo em andamento, é necessário constatar exemplos latentes da atuação da mesma na atual era convergente digital. É fato que o podcast oferece uma gama de análises no campo computacional — é essencial, então, começar a desvendá-lo.

Fontes:
JENKINS, Henry. Collective Intelligence vs. The Wisdom of Crowds. 2006. Disponível em: < http://henryjenkins.org/blog/2006/11/collective_intelligence_vs_the.html >. Acesso em: 25 jan. 2018.
RHEINGOLD, Howard. Net Smart: How to Thrive Online. Cambridge: The Mit Press, 2012.

Seminário discute História e Comunicação

No mês de novembro do ano passado, a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora sediou o IV Seminário Comcine, realizado pelo grupo Comunicação, Cidade e Memória, com o tema “Comunicação e História: diálogos possíveis”.

A primeira mesa do Seminário contou com a professora do Curso de História da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Em outra apresentação, Rafaella Prata, egressa do grupo de pesquisa, compôs a mesa “Pesquisa e Memória: reflexões sobre o passado e o presente”.

Rafaela apresentou sua dissertação de mestrado, que tinha como objetivo analisar a concepção da memória espacial e sentimental de postagens na fanpage do Facebook ―Maria do Resguardo, desvelando as múltiplas representações da cidade de Juiz de Fora, tendo a rede social como espaço de trocas e avivamento da memória.

Lucas Gamonal, também egresso do programa, compondo a mesma mesa, falou sobre o desenvolvimento de sua tese de Doutorado, que tem como título “O corpo como livro de registro das cidades e das viagens: representações e memórias à flor da pele”. O trabalho busca perceber como as tatuagens podem representar memórias e afetos em relação às cidades, ganhando novos sentidos, marcando os significados dessas experiências.

A professora do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do Instituto de Artes e Design da UFJF, Alessandra Souza Melett, ministrou palestra na mesa “Minas é Cinema: propostas e desafios”. O evento foi encerrado por Anderson Luiz da Silva, professor da Faculdade de Letras da UFJF e vice-líder do grupo de pesquisa, que analisou a relevância que as cartas pessoais têm para o estudo de História.

SOBRE ARTE-ATIVISMO

Há uma urgência de ação em sabotar a sociedade capitalista, imprimindo novo significado. Percebe-se um desejo de luta, responsabilidade ou vocação social, devido a uma existência de conflitos, incorporando à arte uma certa instrumentalização. A participação direta ocupa diferentes posições, do artista crítico, libertário até o engajamento ou militante, do ativista pragmático. Vê-se o reconhecimento do outro, passando da educação à mobilização, do individual ao coletivo, já que o adensamento urbano e migratório ignora o indivíduo..

A contestação, crítica às formas vigentes, eram preocupações antigas do Dadaísmo, do Surrealismo, do Construtivismo russo, da contracultura, do movimento Punk e do graffiti. Teve seu primeiro momento na década de 60 e ganhou contornos muito bem definidos na década de 80.  Num segundo momento, tem-se a produção das novas tecnologias ganhando intensidade, com suportes para ampliar o potencial de artistas políticos.

Novas ordenações que surgem da elite cultural e científica têm expansão nas massas. Situamo-nos no Neoliberalismo, era da globalização, pós-fordismo, com presença maciça da publicidade, das contradições sociais e econômicas, especulação imobiliária e dos processos de gentrificação. Temos o Biopoder, que traduz-se pelo monopólio da informação, agenciada pelo regime de produção vigente, evidenciando redes de influência e conspirações entre os interesses das grandes corporações. É na invisibilidade dessa “totalidade mais vasta” que a concepção pós-modernista de um capitalismo voltado para a informação se alastra.

Trabalhando com rompimentos simbólicos, pretende-se então reagir à configuração da linguagem corporativa, no nível subjetivo, convertendo-se em manipuladores de mensagens e signos. Quer comunicar-se através de intervenções urbanas, performances, teatros de guerrilha, dentre outras formas. O ativismo cultural é pois, o emprego de imagens efetivas, meios culturais, ações poéticas e culturais de urgência, que têm como o intuito estabelecer novos caminhos, diversidade narrativa e estética, prevendo uma mudança social, situações políticas heterogêneas.

O arte-ativismo pode recuperar o rumo de uma prática social, que é participativa e autônoma. É como que uma resposta ao culto do artista individual e de sua separação social, pois trabalha com a cooperação e o predomínio de interconexões múltiplas. Possui liberdade de criação, compreendida com base nas relações humanas, chamando a atenção para redes de conhecimento alternativos e movimentos sociais.

A hábil utilização do tempo, com ações efêmeras, cria condições de intervenção nas chamadas zonas autônomas temporárias (contexto urbano). A linguagem festiva e visual apropria-se de configurações estéticas, como a da resistência, para formar ligações afetivas com os espaços. Ultrapassa assim, a mera transmissão de dados. Sai do espaço fechado da arte e da política para o espaço das ruas e da internet, ao mesmo tempo que demonstra hibridismo, numa afinidade entre coletivos de arte e mobilizações sociais.

Há grupos que se dedicam a tais ações, como o coletivo brasileiro “Poro”. Alguns personagens também se destacam. Banksy é uma assinatura de grafites e estênceis que se assomam aos espaço público das ruas da Inglaterra desde a última década, cognome aparentado, em possível analogia ao termo inglês bank (banco, lucro, consumo, muro de arrimo, obstáculo).  É conhecido por fazer intervenções em 500 cópias do disco da cantora e atriz Paris Hilton, com adulteração irônica das imagens do encarte e troca do título das canções. Temos a arte terrorista ou terrorismo poético, o qual possui como objetivo provocar questionamentos; e a Rat-art, uma forma contestação irônica, que utiliza um animal urbano por excelência.

Há que se pensar ainda sobre abordagens provocativas, como o muralismo, que é separador, mas também tem potencialidade cultural. O cenário modifica as formas de ativismo. A internet permitiu uma nova construção social: a democratização. Espaço e tempo se reduziram. Surgiram diferentes e inusitadas práticas, revoluções de linguagem. Os processos tornaram-se simples e acessíveis a um maior número de pessoas com o advento dos dispositivos móveis. As pessoas passaram a construir seus próprios espaços midiáticos, possibilitando a redistribuição de autoridades, diluição da massificação, tendências criativas, integração de minorias, universalidade de conteúdo.

Humanos precisam de ritos e signos. Não há como fugir de uma relação social mediada por imagens, verbos e palavras, já que A Folkcomunicação passou a abranger uma nova realidade no contexto da web 2.0. A videosfera, por exemplo, vê o espetáculo como mal necessário. Lembra a hegemonia da aparência, supremacia das corporações. Tem-se a substituição da personalidade pelo personagem, consequência da socialização em rede.

Passou-se a praticar intervenções também nas redes online. Esse contexto tem como consequência a sobrevivência e ressurgimento da arte militante. Conforme se vê, história nem sempre é ruptura, pode ser exercício relacional, de dar retorno ao desusado. O arte-ativismo amplia conceitos e limites, sem abandonar as velhas formas. A pop art, por exemplo, lida com material previamente existente, com inspiração na comunicação de massa, relacionando-se com fontes diversas de arte.

Cabe pois, a análise do grafite, que permanece imaculado pelo progresso, tendo um novo capítulo de reconhecimento grupal e territorial. Essa forma de arte ganhou mais notoriedade por estender suas invasões aos museus, galerias. Permanece influenciada, devido à midiatização, sendo essas, redes de discursos das quais não se pode fugir. Há ainda a formação de gênios artísticos, nos moldes da fabricação de estrelas de cinema. O grafiteiro é um ativista do imediato, um trabalhador social. Ataca o consumo em seu próprio campo. Trata das imagens invasoras, tendenciosamente embaladas e da difusão exaustiva da informação. Pichações, estêncis, grafites podem possuir expressões anti-globalização, anticapitalismo e ideias pacifista, já que o midiatismo e autopromoção desvirtuam a essência anarquista do ativismo. Busca certa independência crítica e manutenção do interesse público em honesta lucidez, se contrapondo nesse labirinto.

O arte-ativismo aproxima-se da cultura hacker, quando estabelece o caos; e da anti-arte, em favor da intervenção social inspirada, envolvimento da comunidade, consciência crítica e uso de métodos colaborativos. Os melhores atos terroristas culturais são contra a lei, estando à margem das estruturas produtoras. Por isso, muitos setores ainda enxergam essa forma de arte como crime.

REFERÊNCIAS

Chaia, Miguel. Artivismo: política e arte hoje. Disponível em: http://www.pucsp.br/revistaaurora.

Dancosky, Andressa Kikuti; Renó, Danis. Midiatização, intervenções urbanas e cultura marginal: o ativismo terrorista poético na era da convergência.RIF, Ponta Grossa/ PR Volume 12, Número 36, p. 7-58, setembro 2014.

Schneedorf, José. Onde está Banksy? Disponível em: http://www.unioeste.br/travessias.

Branding e literacia de marca: dois marcos do consumo moderno

Segundo um estudo desenvolvido por Anders Bengtsson da Suffolk University e Fuat Fırat da University of Texas Pan American, mostrado no artigo “Brand Literacy: Consumers’ Sense-Making of Brand Management”, o conceito de literacia de marca, surgiu baseado em razões históricas e se expressa em diferentes níveis no consumo contemporâneo.

Nesse consumo, as marcas são co-constituídas através de um processo dialético entre a cultura do consumidor e os esforços de Branding das empresas. O Branding é usado pelo marketing para gestão de marca.  Nele, todo o trabalho realizado tem por objetivo tornar a marca mais conhecida, mais desejada e mais positiva na mente e no coração dos seus consumidores.

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Com as mudanças na cultura do consumidor moderno, as marcas adquiriram o status de instituição cultural se tornando importantes recursos de interação social.  Por isso, os consumidores estão cada vez mais especializados em se relacionar e em usar marcas que estão reconhecidas dentro da sua cultura.

Um aspecto importante das culturas de consumo é o das pessoas desejarem não só um bem pelo seu valor utilitário de mercadoria, mas também pela sua capacidade simbólica de expressar status social para construir e manter identidade. Devido a isso, as marcas têm procurado diferenciar-se das outras, através de atributos relacionados aos estados emocionais dos consumidores. Isso faz com que na atualidade, as marcas se tornem se meios onde consumidores desenvolvem conhecimento e competências em contextos sociais.

Nesse artigo é possível atentar ao fato de que marcas são significativas para os consumidores não só porque são estrategicamente gerenciados por empresas, mas porque os consumidores as incorporam às suas vidas e adicionam suas próprias histórias a elas.  Devido a presença que as marcas têm em nossas vidas, a literacia vem desenvolvendo o papel  de influenciar as relações do indivíduo com a sociedade. Dessa forma, é possível perceber que as marcas são veículos importantes de interação social, transformando a literacia em uma habilidade imprescindível  na vida cotidiana. Podemos concluir então, que a literacia de marca é, e provavelmente se tornará cada vez mais um elemento significativo nas experiências de vida dos consumidores.

A Inteligência Coletiva na era curte e compartilha

O conceito de inteligência Coletiva foi criado a partir de estudos e observações do filósofo francês Pierre Lévy. Ele a caracteriza pela nova forma de pensamento sustentável através de conexões sociais que se tornam viáveis pela utilização da internet que os seres humanos tem.

Pensando dessa forma, a Inteligência Coletiva é fundamentada no compartilhamento de ideias e na colaboração de indivíduos em meio à diversidade. Uma coisa muito interessante, é que ela está distribuída por todo lugar, já que ninguém sabe tudo, mas todos sabem alguma coisa que complementa o saber do outro. Sendo assim, Lèvy a define como uma “memória da percepção e da imaginação, o que leva à aprendizagem coletiva e a troca de conhecimentos”.

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A inteligência coletiva seria então uma forma do homem pensar e compartilhar seus conhecimentos com outras pessoas, utilizando recursos mecânicos para se conectar.  Existem várias formas para isso acontecer, a mais popular atualmente são as redes sociais.

Assim como toda ferramenta técnica, é necessário o conhecimento para poder usá-la. Esse conhecimento técnico, se configura apenas como a primeira instância para uma literacia completa no terreno midiático. Dessa forma, ainda segundo Lèvy, a Inteligência Coletiva resulta em uma mobilização efetiva das competências. (LÉVY, 1998)

Por isso, em uma organização, por exemplo, é possível utilizar todo esse potencial para resolver problemas, inovar em produtos e serviços e até mesmo melhorar o clima organizacional. Outra forma bem legal de se apropriar da inteligência coletiva na prática, são os chamados hackathons. Resumidamente, hackathons são uma espécie de maratona tecnológica, onde grupos se reúnem em uma competição para desenvolver soluções ou serviços envolvendo a criação de softwares.

Nessas maratonas, o conhecimento de um grupo de pessoas é usado para  multiplicar o saber e desenvolver pessoas, muito parecido com o que acontece nas comunidades de prática (grupo de pessoas que se reúne para discutir um mesmo interesse e achar uma solução de um problema).  

A conclusão que fica, é que anos após o conceito de Inteligência Coletiva ser difundido por Pierre Lèvy, ele está mais presente em nosso meio do que nunca. Com as novas ferramentas da comunicação e com cada vez mais adeptos as redes sociais e práticas de compartilhamento online, uma coisa fica bem evidente: as possibilidades de conhecimentos estão logo ali, é só saber usá-las.

Referências: LÉVY, Pierre. As Tecnologías da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Trad.: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: 34, 1993.

______. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 1998.

A educação é o principal caminho

O II Congresso Internacional sobre Competências Midiáticas aconteceu entre os dias 23 e 25 de outubro de 2017, na Faculdade de Comunicação da UFJF e debateu de maneira bastante  participativa os desafios da educação no campo das Competências Midiáticas no século XXI.

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Organizado pela Alfamed (rede ibero-americana de pesquisadores sobre mídia e educação), o congresso surgiu com o objetivo de promover o intercâmbio de informações sobre as Competências Midiáticas e os resultados encontrados no projeto conjunto que está sendo desenvolvido.

Em uma das mesas redondas da Alfamed Brasil, conduzida pelo professor Paulo Roberto Figueira Leal, com as participantes Soraya Ferreira (doutora pela PUC-SP e professora da UFJF) Márcia Barbosa (doutora pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com estágio sanduíche na Universidade do Algarve-PT e professora da UEPG) e Maria Alzira Almeida (doutora pela Universidade Estadual de Campinas e professora da  UFTM), foram apresentadas pesquisas aplicadas em diversos cantos do Brasil.

A primeira palestrante, doutora Soraya Ferreira, apresentou os dados que coletou em sua pesquisa com questionários aplicados em universitários brasileiros a respeito de suas competências midiáticas e destacou o papel fundamental que as universidades têm de fomentar o espírito crítico e cidadão em seus estudantes. Ainda ao final de sua participação, deixou um questionamento de onde estamos e para onde vamos no âmbito da educação e da literacia midiática.

Já a doutora Márcia Barbosa apresentou o projeto que desenvolveu com crianças do ensino fundamental. Dentre suas conclusões, a professora trouxe a tona que as crianças possuíam certo nível de competência ainda que em níveis primários de educação midiática e reforçou a importância dessa competência ser trabalhada na escola, e orientada pelos professores, para um crescimento e aprendizado ainda maior das crianças. Ela também apresentou que a exibição de vídeos poderia ser um caminho para reflexão sistemática do processo de produção e escrita dessas crianças.

Por fim, foi a vez da doutora Maria Alzira apresentar suas considerações sobre os desafios para a formação de professores. Em sua fala, se mostrou constantemente preocupada com a sensibilidade necessária em educadores e a percepção comprovada de que a Escola pouco está se importando com a humanização de seus alunos.

Para encerrar, Alzira comentou sobre o ainda presente e marcante papel da televisão como meio de comunicação que mais influencia no comportamento dos jovens, e destacou o papel fundamental e de extrema responsabilidade dos professores na formação crítica de alunos do ensino superior.

Eu consumo, tu consome, nós produzimos

A participação ativa dos consumidores é uma característica marcante dos meios de comunicação contemporâneos. De acordo com Jenkins, na atualidade, os consumidores são incentivados a buscar informações e promover a conexão entre conteúdos midiáticos dispersos, atuando de forma ativa na produção midiática.  

Para promover essa conexão, foi necessário um canal de distribuição e neste cenário, se promove a internet para fazer de todos nós agentes de publicação. Surge neste contexto o YouTube. Uma nova alternativa para se produzir e distribuir conteúdo de forma direta, descentralizada e não hierarquizada, que exemplifica a cultura da convergência com suas interações entre produtores e consumidores na criação de significado, valor e atuação.

O legal do YouTube é ele ajuda a promover a literacia midiática de muitas formas. Por ser um empreendimento comercial, mas também uma plataforma projetada para viabilizar a participação cultural dos cidadãos comuns, ele atua como meio incentivador e educador no desafio constante de se inserir nos novos contextos midiáticos.

Nele, a cocriação do consumidor é fundamental para avaliar seu valor. Para o YouTube, a cultura participativa não é somente um artifício ou um adereço secundário, é, sem dúvida, seu principal negócio.

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Cultura participativa é um termo geralmente usado para descrever o conteúdo gerado por usuários e algum tipo de alteração nas relações de poder entre os segmentos de mercado da mídia e seus consumidores. A definição de cultura participativa de Jenkins estabelece que os fãs e outros consumidores são convidados a participar ativamente da criação e circulação do novo conteúdo. Encarada como uma maneira de “criatividade vernacular”, a criação e o compartilhamento de vídeos no YouTube atuam do ponto de vista cultural como um meio de estabelecer redes sociais em oposição ao modo de produção cultural (BURGUESS; GREEN, 2009).

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Desta forma, o consumo não é mais visto necessariamente como o ponto final na cadeia de produção e sim como um espaço dinâmico de inovação e crescimento em si e isso se estende às práticas dos consumidores de mídia ou audiências .

Referências: BURGUESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube e a Revolução Digital: como o maior fenômeno da cultura participativa está transformando a mídia e a sociedade. São Paulo: Aleph, 2009. JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008.

Uma reflexão sobre a Inteligência Coletiva de Lévy

A chamada inteligência coletiva, proposto por Lévy há mais de duas décadas é extremamente atual. Em seu texto, o autor destrincha o sistema colaborativo que vemos com tanta clareza na internet. Apesar de se aplicar na nossa realidade atual, o texto foi escrito na década de 90, ou seja, a realidade em que o autor estava inserido era bem diferente do mundo digital que vivenciamos hoje. Na verdade, é um conceito aplicado há muito tempo, sendo potencializado no contexto web. 

Lévy aborda o colaborativismo como uma forma de ensinar, aprender e potencializar os resultados no funcionamento da sociedade em geral. Em seu discurso, Lévy deixa claro que cada pessoa possui uma inteligência, um saber único e aprofundado. E, no mundo existem inúmeros conhecimentos, todos necessários para o funcionamento do sistema social que vivemos. Ou seja, independente de qualquer distinção, todas as habilidades e saberes são importantes e se completam. Isso proporciona resultados enriquecedores para a sociedade! Inclusive, reco

Se você observar, verá que hoje vivemos isso na web. Um exemplo clássico disso é a grande quantidade de tutoriais disponíveis na internet: Você pode aprender a fazer desde programações complicadíssimas a cozinhar um ovo dentro da mesma plataforma, o Youtube.

Essa inteligência coletiva, se for conscientemente utilizada, traz benefícios incontáveis para a sociedade, que se enriquece com os saberes somados em muitas esferas: econômicas, sociais, mercadológica, etc.

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Com a internet, inúmeras barreiras têm sido quebradas, como a distância física entre um continente e outro, além de proporcionar a democratização do saber (antes encontrado em trocas de experiências, bibliotecas, etc),  potencializando a inteligência coletiva. Levy descreveu este fenômeno há mais de 20 anos e, hoje, é uma realidade visível.

A tendência proposta é de que a sociedade em geral seja mais organizada e potencialmente inteligente através da inteligência coletiva. Uma boa notícia, cada vez mais visível, para os otimistas de plantão: Seja no colaborativismo, seja na tecnologia, seja na soma de ambos.

Anna Leão.

Mesa redonda discute diferentes esferas da educação das mídias em Congresso Internacional

Diante do contexto atual em que estamos inseridos, a importância de falar sobre as competências midiáticas é cada vez mais evidente. Com as novas mídias emergiu também significativa ampliação da produção, compartilhamento e consumo de informação. Se antes o fluxo da informação era unilateral, hoje é plural e qualquer pessoa pode produzir, comentar e disseminar conteúdos.

Devemos nos lembrar apenas estarmos imersos nas possibilidades das novas tecnologias não é suficiente para criar produtos comunicacionais de qualidade e, principalmente, para que as pessoas exerçam sua cidadania através destas mídias. Pelo contrário, a necessidade de falarmos sobre a literacia das mídias é cada vez mais latente.

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O debate girou em torno das mudanças das mídias e a educação da população em relação a elas, objetivando traçar possibilidades que desnudem para a população formas de produzir, compreender, interpretar e disseminar os conteúdos que consomem.  Sem educação das mídias, não existe pensamento crítico.  

É impossível falarmos sobre literacia sem falarmos sobre educação. Sob essa perspectiva, foi realizada no dia 24  de outubro a mesa redonda “O que é educação?” no II Congresso Internacional sobre Competências Midiáticas, na Universidade Federal de Juiz de Fora (evento que teve duração de 3 dias, entre 23 e 25 de outubro de 2017).

A mesa redonda teve mediação do professor da Faculdade de Comunicação da UFJF Paulo Roberto Figueira Leal (recebido com grande entusiasmo pela platéia ali presente), que brilhantemente conduziu o debate.

A professora do curso de jornalismo da UFJF, Soraya Ferreira, apresentou dados de uma pesquisa realizada por um grupo de pesquisa da própria universidade. A pesquisa contava com a aplicação de questionários em estudantes, objetivando identificar as competências midiáticas dos participantes em diferentes dimensões (cada uma igualmente importante para um sujeito literado, como domínio das técnicas de produção de um produto audiovisual, reconhecimento das ferramentas utilizadas, identificação das ideologias e valores propostos, etc). O resultado da pesquisa não foi nenhuma surpresa para quem observa empiricamente o comportamento da nova geração: os estudantes produzem pouquíssimo conteúdo próprio. Dessa forma, podemos refletir que as novas mídias podem apresentar novas possibilidades, mas sem a literacia midiática, o sujeito não irá ter o senso crítico em perceber que ele pode (e deve) produzir conteúdos próprios, usando sua voz e exercendo sua cidadania.

Se a reflexão proposta por Soraya girou em torno da produção, a próxima convidada a se apresentar trouxe um outro lado da moeda igualmente importante: a de estimular a reflexão. A professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Márcia Barbosa da Silva, expôs sua pesquisa que também foi realizada com questionários, mas para um público diferente: o público infantil. De acordo com a professora, as crianças possuem um nível de competência midiática, ainda que cru. Segundo a professora, é importantíssimo que as crianças aprendam a refletir sobre os produtos comunicacionais em suas diferentes esferas e, principalmente, reflitam sobre seus direitos de exercer a cidadania através do consumo e produção de conteúdo nos meios que possuímos hoje.

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Em uma terceira perspectiva sobre a educação, a professora da Universidade de Sorocaba, Maria Alzira de Almeida Pimenta, embasada em um estudo realizado por ela  sobre a educação em 11 países, pontuou a necessidade de existir uma formação dos professores que perpassem todos os níveis da educação sobre o pensamento crítico nas mídias. Dessa forma, teremos um impacto e mudanças muito mais significativas na sociedade em geral. 

Anna Leão.

 

Uma perspectiva social e tecnológica sobre a Literacia Midiática

Falar sobre literacia midiática hoje é fundamental, já que grande parte das pessoas hoje se informam através de conteúdos na web, em detrimento de periódicos físicos e certificados como livros e jornais.

 

Portanto, é fundamental que os indivíduos sejam alfabetizados midiaticamente e consigam compreender, interpretar, produzir e disseminar os conteúdos da web, exercendo pensamento crítico e cidadania.

 

Os estudos sobre a literacia midiática cresceram exponencialmente nos últimos anos. Muito se tem falado sobre a importância da educação das mídias. Um dos textos sobre a literacia chamado “ Information literacy as a socio techinical practice” traz uma nova perspectiva sobre a importância de levarmos em conta também o fator social.

 

De acordo com os autores, conhecimento e significados são frutos de diálogos e debates. Inclusive, ele cita estudos que afirmam que indivíduos em grupos lêem mais do que indivíduos isolados em outros estudos que mostram que muitas das competências e habilidades não são adotadas de forma individual, mas sim em colaboração com outras pessoas. Dessa forma, o autor traz uma brilhante percepção sobre a importância de refletirmos  sobre o aspecto social que a literacia contempla.

 

O texto cita Christine Bruce, que chama a atenção para a interdependência entre os grupos e indivíduos. Ela critica a ideia de ver a literacia midiática apenas sob a ótica das habilidades individuais de cada um, porque muitas vezes muitas vezes a pessoa não lida com a tecnologia sozinha, mas utilizando ferramentas como serviços de suporte e até mesmo seus pares, reforçando a importância do aspecto social ao refletirmos sobre a literacia.

 

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Em contrapartida, os autores chamam a atenção para o fato de que não faz sentido falar sobre literacia sem considerar as tecnologias que as envolvem. Dessa forma, sugerem que existe uma interdependência forte entre o aspecto social e o técnico.

 

De acordo com o texto, “os artefatos tecnológicos estão inseridos nas nossas atividades e nas nossas conexões uns com os outros”. Ou seja, as tecnologias interferem na forma como as pessoas se comunicam. Por exemplo, o cinema, no início do século XX era visto por alguns estudiosos como o meio de comunicação que refletia o ritmo da sociedade na revolução industrial. Com o avanço das tecnologias, a televisão foi ganhando força e, a forma como o conteúdo começou a ser transmitido se modificou: os telejornais apareceram, com uma postura objetiva e uma forma de transmitir a informação muito diferente da que temos hoje, com a internet (que tem essas modificações atreladas também à evolução tecnológica).

 

Ao fim do texto, os autores propõem o conceito de comunidades epistêmicas, ou comunidades práticas, que são “sites onde as pessoas aprendem e compartilham ideias formando e negociando significados, valores e objetivos”. Que é, basicamente o que vemos hoje na internet, principalmente nas redes sociais.

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Anna Leão.